Concurso PF: recursos para prova de agente 2021

O Cebraspe divulgou a consultou aos gabaritos preliminares das provas da Polícia Federal no dia 25 de maio. Quem discordou das respostas, tem o prazo de dois dias para interpor recursos.

Após divulgarem o gabarito extraoficial das provas de agente, nossos professores comentaram sobre possíveis recursos no concurso PF. Confira a seguir!

Recursos da prova de Português para agente da PF

Os professores Luciane Sartori e Sidney Martins propuseram os seguintes recursos para as questões de Língua Portuguesa:

“Cresce rapidamente, em quase todos os países, o número de pessoas na prisão ou que esperam prováveis sentenças de prisão. Em quase toda parte, a rede de prisões está se ampliando intensamente.”

Questão 14

No segundo período do texto, a partícula “se” classifica-se como partícula apassivadora.

Gabarito preliminar oficial: CERTO.

Comentário:

Este gabarito deve ser alterado para ERRADO porque o “se” é uma parte integrante do verbo. A prova disso está no “Dicionário prático de regência verbal”, do Celso Pedro Luft. Nele, encontra-se a informação de que o verbo “ampliar-se” é pronominal (o autor usa a sigla TDp). Veja como está no livro, no verbete “ampliar”: “(…) TDp: ampliar-se.

Tornar(-se) (mais) amplo, amplificar(-se); dilatar(-se); alargar(-se); alongar(-se). // Desenvolver(-se). (…)”.

Além disso, o gramático Evanildo Bechara, em sua “Moderna Gramática Portuguesa”, no capítulo de Colocação (Sintaxe de Colocação), diz:

“Entre os casos de colocação usual ou normal em português sobressaem os seguintes: (…)

d) a colocação do verbo depois do sujeito, NÃO HAVENDO PASSIVA COM O PRONOME SE ou quando não se trata de interrogação…

Dudu mudou de colégio.

Mas: Aluga-se esta casa. Por que cometeu ele essa falta?”

Os gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra corroboram essa análise no capítulo 7 de sua gramática, também na parte de Colocação.

É por essa sintaxe de colocação apresentada pelos gramáticos acima que, nos exemplos abaixo, a posição do sujeito de cada frase altera a análise do “se”. Veja:

A mulher se feriu gravemente. (pronome reflexivo = a mulher feriu a si mesma)
Feriu-se a mulher gravemente. (partícula apassivadora = a mulher foi ferida)

A sociedade se desenvolvia a passos largos. (parte integrante do verbo)
Desenvolvia-se a sociedade a passos largos. (partícula apassivadora = a sociedade era desenvolvida)

A discussão alongou-se durante a noite. (parte integrante do verbo)
Alongou-se a discussão durante a noite. (partícula apassivadora = a discussão foi alongada)

Em quase toda parte, a rede de prisões está se ampliando intensamente. (parte integrante do verbo)
Em quase toda parte, está se ampliando a rede de prisões intensamente. (partícula apassivadora = a rede de prisões está sendo ampliada)

Portanto, pelo arranjo sintático da frase da questão, isto é, por causa da posição sintática à esquerda do verbo, a análise do “se” é de parte integrante do verbo.

Questão 16

Seria mantida a correção gramatical do texto caso a forma verbal “esperam” (primeiro período do texto) fosse substituída por “espera”.

Gabarito preliminar oficial: CERTO.

Comentário:

Este gabarito precisa ser alterado para ERRADO.

Segundo o gramático Domingos P. Cegalla, em seu livro “Dicionário de dificuldades da língua portuguesa”, no verbete “o número de”, encontramos a seguinte informação: “Em frases como a seguinte, o verbo da oração adjetiva deve concordar com o substantivo que se segue a essa expressão: ‘O número de pessoas que ULTRAPASSAM os sessenta anos aumenta cada vez mais’. O verbo da oração principal, ao invés, fica no singular, concordando com o substantivo NÚMERO”.

O gramático Pasquale Cipro Neto, em resposta a uma dúvida em sua coluna da Folha de São Paulo, em 18/09/2003, concorda integralmente com Cegalla. Confira aqui.

Importante: nenhum gramático diz algo diferente disso sobre essa construção ultraespecífica, a saber: “Cresce rapidamente, em quase todos os países, o número de PESSOAS na prisão ou QUE ESPERAM prováveis sentenças de prisão”.

E digo mais: o próprio sentido da frase do texto impede que a concordância do verbo “esperar” se efetue com o substantivo “número”, pois não é o número que espera prováveis sentenças de prisão, e sim as “pessoas” (elas, sim, esperam prováveis sentenças de prisão).

Recursos da prova de Informática para agente da PF

O professor de Informática da Folha Cursos, Eduardo Benjamin, também selecionou algumas questões que são passíveis de recurso. Confira:

Questão 1

Com relação a conceitos de programação Python e R, julgue os itens que se segue.

O código Python a seguir apresenta como resultado “True”.
x = bool(-3)
y = bool(“True”*x)
z = bool(“False”)
print (x and y and z)

Gabarito preliminar oficial: CERTO.

Comentário:

A organizadora em questão afirma que o resultado do referido script(código) retornará como saída do código TRUE.

Primeiro. Vamos entender o que é bool. É uma classe em Python que proporcionam uma forma de organizar dados e funcionalidades de forma agrupada. Uma classe de objetos descreve um grupo de objetos com propriedades (atributos) similares, comportamento (operações) similares, relacionamentos comuns com outros objetos e uma semântica comum. Por exemplo, Pessoa e Companhia são classes de objetos.

Especificamente no Python, a class Bool devolve um valor Booleano, isto é, True ou False.

Valores booleanos são os dois objetos constantes False e True. Eles são usados para representar valores verdadeiros (apesar que outros valores também podem ser considerados falso ou verdadeiro). Em contextos numéricos (por exemplo, quando usados como argumentos para um operador aritmético), eles se comportam como os inteiros 0 e 1, respectivamente. A função embutida bool() pode ser usada para converter qualquer valor para um booleano.

Agora, importante saber que por uma questão de sintaxe da linguagem os valores são escritos como False e True, respectivamente. Ao se colocar as aspas eles tornam-se strings.

Os dados textuais em Python são tratados com objetos str, ou strings. Strings são sequências imutáveis de pontos de código Unicode. As strings literais são escritas de diversas maneiras:

Aspas simples: ‘permitem aspas “duplas” internas’

Aspas duplas: “permitem aspas ‘simples’ internas”.

Fonte: https://docs.python.org/pt-br/3/library/stdtypes.html#bltin-boolean-values

E, por fim, existe na internet um site que testa códigos escritos em diversas linguagens de programação.
Para fundamentar de forma definitiva que o gabarito está em desacordo com o apresentado vejamos.

https://replit.com/languages/python3 (local onde foram testados os códigos abaixo):

Ao executarmos o script como aplicado na prova com aspas nos booleanos veja o que acontece:

Temos a certeza de que o interpretador da linguagem Python não entende a instrução e apresenta:

ERRO DE SINTAXE:

SyntaxError: invalid syntax

Agora! Perceba quando retiramos as aspas dos booleanos no script abaixo:

O código é interpretado corretamente. Outro ponto o código retorna False e não True.

Diante da fundamentação apresentado temos:

• A class Bool (Python) devolve um valor Booleano, isto é, True ou False.
• Os valores são escritos como False e True sem aspas.
• Ao colocarmos as aspas se tornam strings (cadeia de caracteres) normais: “true”, “false”, “curso”.
• Strings são sequências imutáveis de pontos de código Unicode.
• Ao executarmos o código com as aspas nos booleanos true e false o programa retornou erro.
• Ao executarmos o código sem as aspas nos booleanos true e false o programa retornou erro.

Diante do exposto, solicito a INVERSÃO DO GABARITO uma vez, que o gabarito da organizadora apontou a alternativa como CERTA e a questão, como definido pelo enunciado, está ERRADA.

Questão 2

O resultado do código R seguinte será “12”.
f<- function(x) {
g<-function(y) {
y + z
}
Z<- 10
f (4)

Gabarito preliminar oficial: CERTO.

Comentário:

A organizadora em questão afirma que o resultado do referido script(código) retornará como saída o valor “12”.

Na ciência da computação chamamos uma sequência de caracteres de string. Para o desenvolvimento de análises automatizadas de conteúdo, é necessário saber como processar esse tipo especial de dado “o texto como dado”. Nesse sentido, três coisas são importantes de serem lembradas aqui:

1. Computadores não interpretam letras.
2. No limite, todos os caracteres são transformados em sequências compostas por zeros e uns.
3. Logo, é através de padrões que caracteres são interpretados e os computadores armazenam os dados que retornam a nossos olhos.

Programar é escrever! Não é à toa que chamamos as formas de escrita em programação de linguagens de programação. Nesse livro, por exemplo, usamos a linguagem R. Sabendo disso, o desafio de se trabalhar com o texto como dado é o desafio de fazer com que o computador diferencie código escrito do “texto como dado” que ele precisará processar de acordo com os interesses do analista.

Como nós brasileiros lemos, o código e texto é processado pelo computador no seguinte sentido: da esquerda para a direita e de cima para baixo. Logo, ao desenvolver seu script é importante ter atenção em relação à ordem de escrita para que o computador possa desempenhar corretamente suas tarefas.

É possível utilizar toda a versatilidade de estruturas de dados no R (vetores, matrizes, listas, data.frame, etc.) para processar sequências de caracteres.

Para declarar uma string, utilizamos aspas simples ‘ ou aspas duplas “”.

Fonte: https://bookdown.org/davi_moreira/txt4cs/stringR.html

Portanto o código retornará 12 (dado inteiro) e não “12” (string de caracteres).

Diante do exposto, solicito a INVERSÃO DO GABARITO uma vez, que o gabarito da organizadora apontou a alternativa como CERTA e a questão, como definido pelo enunciado, está ERRADA.

Leia também: Sugestão de recurso para Arquivologia na prova de escrivão